Trocar cheque a juros vale a pena?

Em Empréstimos e financiamentos por André M. Coelho

A troca do cheque a juros é uma prática popular no mercado financeiro. Ela é realizada por empresas de factoring ou por agiotas, que “compram” cheques pré datados de empresas e pessoas físicas com um desconto sobre o valor de face do cheque, o que se torna o “lucro” dessas pessoas ou empresas. Estes, por sua vez, assumem também todo o risco envolvido com o cheque: cheque sem fundos, cobrança, protesto do título, etc. Não vamos atropelar os bois, porém, e vamos explicar em etapas.

Só que ao cobra o calote, geram-se outros custos de cobrança. Telefonemas, pesquisa de documentos, cartório, cópia de documentos, advogados, e seu tempo (sim, seu tempo custa dinheiro). Para lucrar com esse tipo de negócio, de troca de cheques por juros, a cada número X de cheques, apenas um número Y de cheques pode dar problemas. Quando o número Y aumenta, você tem que aumentar a taxa de juros cobrada pelos cheques, ou seja, o desconto sobre o valor do preço de face do cheque, o que pode gerar menos clientes e menos lucro no médio e longo prazo. E seus custos de cobrança não vão cair, porque você precisará continuar cobrando cheques.

Riscos da troca de cheque

Trocar cheque pode ser um tiro no pé, pois envolve muitos riscos sobre os quais não há como ter controle de riscos, ou seja, saber se o cheque será realmente pago. (Foto: portaldoemprestimo.com)

Troco de cheque pré datado: problemas com depósito antes da data

Outro problema é que muitas pessoas colocam cheques com o clássico “bom para” no cheque, contando que aquilo valha alguma coisa. Não vale. Se o cheque está assinado, vale a data do cheque para o saque ou depósito. E há empresas de factoring e pessoas físicas que trocam cheques pré datados que acabam depositando antes da data, o que pode gerar problemas tanto para quem trocou o cheque quanto para as empresas de cobrança. É uma cadeia de reações e problemas que geralmente só se resolve nos tribunais.

Troco cheque por dinheiro: juros!

Os juros talvez sejam o maior problema da troca de cheques por dinheiro. Funciona da seguinte forma, para quem ainda não entendeu o passo a passo:

  1. A empresa ou pessoa física compra um cheque de uma outra empresa ou pessoa física e paga por esse cheque.
  2. Esse valor é pago com um desconto sobre o valor de face do cheque. Por exemplo, se o cheque é de R$100, a empresa que comprou o cheque pode decidir pagar só R$90 como juros ou risco que ela assume por comprar o cheque. Geralmente, também cobram uma taxa de prestação de serviço. Em alguns casos, o desconto sobre o valor de face do cheque pode chegar a até 40%.
  3. A pessoa que tinha um cheque pré datado recebe o dinheiro antecipadamente e quem comprou o cheque se compromete, geralmente sob assinatura de termo de compromisso, a só depositar ou descontar o cheque na data acordada.

É basicamente vender o risco para outra pessoa ou empresa, e perder o valor cheio de um cheque. E também perder margem de lucro, em muitos casos. No desespero, no entanto, ou quando há sérios indícios de que o cheque pode ser de um cliente sem fundos, repassar o risco pode ser uma boa opção.

Vale a pena trocar um cheque?

Apesar dos riscos inerentes a esse tipo de transação, se for realizado diretamente com uma empresa de factoring (cobertas pelo Banco Central – exija o registro!) e NUNCA com agiotas, há situações onde a troca de cheques é viável.

Em situações onde é necessário o capital de giro urgente, a família ou empresa precisa pagar certas contas, uma antecipação de cheques com desconto de face (juros) entre 5% e 10% não é muito diferente do que é hoje o cheque especial na conta corrente de um banco. Ao mesmo tempo, uma empresa que se vê em um mesmo mês com vários cheques sem fundos ou retornando podem vender seus cheques ou antecipar outros como forma de gestão de risco, antes de adotar uma política de cobrança de cheques.

Como todo tipo de empréstimo, se planeje financeiramente para evitar precisar dele novamente, e se planeje antes de pegá-lo. Assim, você evita entrar em uma espiral de dívida, e viciar na facilidade do empréstimo para sair da bola de neve.

Você já trocou cheque com juros? Como foi a experiência? Teve problemas depois?

Sobre o autor

Autor André M. Coelho

Crédito ou débito? Esta é uma pergunta quase sempre feita ao se pagar com cartão mas é uma questão também comum na vida de muitos brasileiros. Com mais de 300 horas em cursos de finanças, empreendedorismo, entre outros, André formou-se em pedagogia e se especializou em educação financeira. Dá também consultorias financeiras e empresariais quando seus clientes precisam de ajuda e compartilha conhecimentos aqui neste site.

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